1.11.07

Brando e Bertolucci



Quando apôs de muitos anos o Brando e o Bertolucci se reencontraram numa festa, este disse-lhe àquele: “Consegui tirar-te a máscara, não é?” A resposta chegou com um riso pequeno: "Tu em verdade crês que eu era o sujeito aquele?" Paul, o personagem da fita, é um jornalista americano farto de tudo –lutara nas guerrilhas, conhecia o mundo...–; ele vivera seu tempo de jeito comprido e intenso, mas portava um grande fardo de desassossego pelo suicídio de sua esposa.

Marlon interpretou o papel com uma grande liberdade. Bertolucci deixara-lhe independência para actuar, depois de lhe explicar a ideia geral do filme. Decorria o ano 73 e as cenas amorosas escandalizaram meio mundo. Como era de esperar, o filme foi censurado pelo seu contido excessivamente explícito. O actor, de 48 anos, e a jovem Maria Schneider passaram uns dias juntos para conhecer-se antes da rodagem naquele Paris ainda comovido pelo tremor das revoluções estudantis.

Bertolucci sempre quisera levar ao cinema uma sua fantasia: um homem maduro conhece uma mulher nova num apartamento vazio e fazem o amor sem apenas cambiar palavras. Quando esse relacionamento se prolonga no tempo, termina por tomar um carácter sadomasoquista.

Brando não era um actor qualquer: seu talento ultrapassava o da maioria dos artistas actuais. Seu sentido da justiça e seu compromisso humano e político evidenciou-se em películas e em atitudes, como a de recusar-se a receber o premio da academia pela sua interpretação de Vitto Corleone. O motivo era a difamação dos aborígenes americanos no cinema de Hollywood.

Depois daquele último tango em Paris, Brando havia de iniciar um caminho de autodestruição e aniquilamento da própria imagem. Afastar-se-ia do cinema, ao que só retornaria por quartos, quando os trágicos problemas dos filhos o obrigaram.

A pergunta ainda fica incontestada: Quem era, de todos os personagens que interpretou, o Marlon Brando?

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