15.10.07

O nabo e o cavalo

Uma vez um homem recolheu um nabo muito grande, e foi-lho levar ao amo do povo, e o senhor deu-lhe três moedas de ouro. Então um homem que tinha um bom cavalo, disse para si:
– Se àquele deu-lhe três moedas de ouro, a mim, que lhe levo um cavalo, dar-me-á muito mais.
Quando chegou o homem à porta do castelo, disse o senhor:
– ¡Ai, meu Deus, que cavalo!, ¿quanto queres por ele?
– Não lho vendo, senhor, eu dou-lho de boa vontade.
– Nada, eu tenho que dar algo mais, e, como não tenho quartos, dar-te-ei este nabo.
E deu-lhe o nabo do outro. E, quando o homem chegou ao povo, por pouco mais mata ao outro.

Neste conto popular recolhido na província de Lugo, o que primeiro chama a atenção é a presença do amo do povo. Na época feudal isto seria o mais comum. Mas desde aqueles dias já choveu, e por isso não é provável que o breve relato nascesse daquela. Pode ser que a historia nos reenvie a tempos mais recentes, quando os fidalgos ocuparam o posto da grande nobreza absentista que morava em Madrid. O tubérculo da planta crucífera aponta claramente a província de Lugo, onde este cultivo servia com muito proveito, e serve, ainda que não exclusivamente, para o mantimento do gado, pêro também é possível que este elemento seja substituído noutros âmbitos geográficos. O que convida a reflexão nesta narração é o metal dourado das moedas do senhor. Sabemos que desde tempos imemoriais o ouro é usado como médio de intercâmbio e poupança. Também tem usos mais subtis e menos vulgares, como o de excitar a imaginação dos homens, que gostam de fazê-lo formar parte principal dos seu sonhos. Como recusar-se a acreditar nesta última asserção quando comprovamos o facto de ele estar presente nas mais variadas lendas do folclore da Europa e da Galiza. Quem não conhece neste pais uma lenda fantástica de tesouros de mouros enterrados ou mergulhados? A mim lembra-me à bolha imobiliária que tem impelido a economia nos últimos anos. No nosso pais não tem acontecido ainda a parte da troca do nabo pelo ruço.

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